segunda-feira, 14 de julho de 2014

Bobalhona.

Passei só pra te deixar um beijo, passar as últimas notícias do meu pai: Ele está se recuperando no quarto, estável. Claro que há vários detalhes que eu normalmente compartilharia com você, mas agora, bom, nada a ver, né? E tudo bem. Sabe, eu fico muito orgulhosa de cada barreira que transponho sozinha. Desde a minha carteira de motorista, as notas melhorando na faculdade, até uma sobremesa nova que deu certo. Mas no fim sinto uma magoazinha sua. É que quando tudo isso pesa muito, e por ter começado a ficar realmente difícil bem na semana que terminamos, eu me sinto abandonada. Digo, seria tão mais fácil tendo com quem compartilhar, um ombro pra deitar a cabeça no fim do dia. Até hoje ainda não estive sob circunstâncias normais para poder colocar meu emocional no lugar. E me pego pensando: Ora, espero que essa felicidade dele esteja valendo tudo que eu tenho passado sozinha! No fundo eu sei que não é sua culpa, afinal, como você mesmo disse, você teve que priorizar a sua felicidade. E já estava aí uma prova da sua falta de amor, já que, como você também já disse, os casais devem estar juntos para fazer o outro feliz. Noto que na verdade, você estava esgotado de esperança no nosso relacionamento. Coisa corriqueira, já que não era a primeira vez que você estava desistindo de nós. E isso também me deixa ressentida em ter te amado tão profundamente e receber de volta tanta incerteza. Você me disse ao terminar, uma semana depois de ter reconsiderado isso, que tinha pressa em ser feliz e por isso e em outras palavras, não estava mais disposto a investir em nós por uma felicidade futura, você queria estar feliz agora. Engraçado que você trocou o tempo que seria necessário pra regar o sentimento pelo tempo de arrancá-lo pela raiz. Ou seja, o que a gente tinha não valia mais a pena pra você. No início eu tive tanto medo da falta que sentiria dos seus olhos e de não conseguir amar mais ninguém que não os tivesse iguais. Sobretudo de eles andarem soltos por aí. Ou de apertar seu nariz e morder sua barriga pra fazer cosquinha. E hoje eu vejo esses costumes perdendo as forças pra distância. E nisso imagino que você já deva estar em outra e achando tudo isso ridículo, bom, me desculpa, só precisei colocar pra fora. E fica tranquilo que agora não perturbo mais. Me consolo pensando que tudo isso aconteceu pra aproximar minha família, me tornar mais madura e independente. Pena que você não esperou o tempo de me tornar mulher, faltava tão pouco. E eu teria sido só sua. Mas, olha... eu reconheço o quanto cresci com você, as nossas viagens me deixaram lembranças lindas. Mas já deu de ser a bobalhona que gosta sozinha. Tenho vergonha das vezes que te persuadi a ficar comigo e Deus me livre de me tornar um incômodo hoje. Então, é isso, desabafei. Não se sinta na obrigação de responder. Tá tudo bem. Bom dia pra você.